Exposição Avesso do Medo

Fanny Feigenson apresenta uma série de Cartas/Desenhos ou Desenhos/Cartas: fundem-se textos ou palavras sugeridas, linhas em movimento, mescladas com imagens, manchas e cores. As letras, ora transparentes, sugerindo palavras ou frases, ora transformando-se em gestos, garatujas, repetições, movimentos das mãos, dos braços. O que sugerem estas cartas/desenhos? O que objetivam? Nas conversas com Fanny, percebo que seus trabalhos possuem raízes profundas: habitam o coração. Expressam-se pelas mãos. Para onde apontam esses gestos, traços? Norteados pela matéria e cor, expõem inúmeras cartas/desenhos que nos dizem da vida e da morte.

Entrando no espaço expositivo, o Centro Histórico Cultural Mackenzie, vemos a exposição de desenhos/escritos de Fanny Feigenson. A montagem em forma de espiral expõe os desenhos/escritos feitos no período de 2020 a 2022; período de pandemia, isolamento físico e mental, além da ansiedade, tudo isso provoca um olhar para o espaço externo (e interno). Podemos associar o espaço da folha de papel às janelas, por onde podemos enxergar a paisagem. Percebemos uma mescla dos tempos e dos espaços. Fundem-se passados e presente. Nos desenhos, ressaltam as cores intensas, manchas, tinta que escorre, ou apenas registra gestos. Por enquanto ressaltam algumas letras, ou até palavras, porém, o que dizem? A intensidade das cores é tão fundamental como os braços... ora contidos, ora expressivos. Os desenhos possuem frente e verso. Os versos, marcados por manchas de tinta que transpassam o papel, demonstram as marcas, os vestígios do que ocorreu do outro lado. Outras leituras seriam possíveis?

Talvez, de maneira próxima, um eco de uma escrita, pintura que se esvai no espaço/tempo de Fanny Feigenson. Do outro lado, no verso, assim como algumas técnicas diretas, não há controle. O que perpassa para o outro lado, é incontrolável, porém deixa vestígios irregulares, muito presentes. Lembrando que é necessário frente e verso; quando a tinta é à base d’água, atravessa as fibras do papel. Assim como um eco, que ressoa palavras ditas...

Fanny, amiga, colega, mulher, nos mostra seu percurso em forma de espiral, e suas palavras silenciosas.

Luise Weiss

O que vem a ser um gesto? Algo como complemento de um ato.
O ato transitivo, objetivo apenas, um objeto, um resultado;
já o gesto é a soma indeterminada e inesgotável das razões,
das premissas que envolvem o ato em atmosfera.

Roland Barthes. O óbvio e o obtuso. p.146.